Me basto.
Penso em gritar sem voz que
Chega!

Descontente olho o céu
Aponto o dedo para uma nuvem
Ela olha a nuvem errada
E eu aparo a lágrima que fugia
Com o mesmo dedo
Dissimulado

Mudo de assunto
Não basta que tenhamos
Cachorros se eles também têm
Cachorros que serão
Amigos dos nossos
Cachorros

De repente
Na obrigação
Por educação
Estou fazendo carinho na cabeça de
Cachorros que não os meus
Cachorros

Devo mostrar que amo
Os animais
Que querido, quantos anos tem, é menino, castrado, é manso, qual petshop tu leva
Essas e outras perguntas que os
Cachorros não sabem responder
Eles só sabem receber
O carinho que os donos deles

Insistem em parar pra ver

E aí
Vais afagar
O meu bicho
Ou eu vou afagar
O teu bicho

Eles se cumprimentam
Nós não
Se me olham
E me olham
Eu aponto para os
Cachorros
E digo que o negócio ali é entre eles
Que nós não temos nada senão
Cachorros

E ficam ali
Cheirando o cu um do outro.

Do que tu tá falando, porra? E o que é que tem essa nuvem?
Nada. Me basto.

Depois
Volto.

Ou

Onde aquela nuvem vaga
Eu desisto.