LENÇOL ALVIRRUBRO

Sergio Trentini
2 min readApr 6, 2017

Eu gostei de verdade desse título e precisei colocá-lo em caixa-alta

Nunca perguntaram, mas se perguntassem, eu afirmaria que sim, já superei. Mas seis cervejas e um amigo novo depois e estou, de repente, falando o nome dela em praticamente todas as oportunidades. Meu amigo novo menciona que uma vez quebrou o nariz e eu mal acabo de ouvir sua história e já estou contando empolgado sobre quando durante o sono tive um espasmo entorpecido e acertei a mão no nariz dela. Ela me despertou aos gritos. Enquanto eu corria para o banheiro para sacar a primeira toalha pendurada no box entendi o que havia acontecido e no meio daquela balbúrdia enrolados em um lençol então alvirrubro ela dizia “tu é mesmo um idiota de merda, cara, vai se foder!” e quase como se não precisasse tomar ar entre as frases emendava com “olha a merda que tu fez! Olha a merda que tu fez! Olha a porra da merda que tu fez!”, mas eu mal podia distinguir isso tudo porque estava preocupado em estancar, ao mesmo tempo, o sangue que jorrava de seu nariz e as minhas risadas nervosas que saltavam como soluços compulsivos e doentios procurando uma saída no meio da garganta já que a boca estava impedida pela palma da minha mão numa autêntica pose de criança ao ser repreendida pela professora na segunda série e perante iminente proibição do riso sente a coceira ansiosa da gargalhada urgente.

“Tava eu lá assim, cara”, demonstro para meu novo amigo esticando a mão direita para o ar enquanto tapo a boca com a esquerda.

Ele não ri.

--

--